Católicos Antifascistas Sim Senhor
Porque os católicos que não aderem ao fascismo também têm o direito de sentar à mesa da Eucaristia
Em sua primeira Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium, o papa Francisco denunciava a divisão entre católicos:
Dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades, quantas guerras! No bairro, no local de trabalho, quantas guerras por invejas e ciúmes, mesmo entre cristãos! O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.
Neste alerta, o papa lembrava que estamos nos afastando daquilo que nos definiria como cristãos. Já disse o próprio Jesus na Quinta-feira Santa: “"Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (São João 13,35).
A nossa Igreja Católica anda dividida, e esta divisão está sendo promovida por setores que odeiam os pobres, preferidos de Deus. Tradicionalistas e integristas capturaram o Concílio Vaticano II e usam sua hermenêutica para promover o apoio a regimes de morte e miséria.
Estes setores recusam-se a viver a espiritualidade católica, a fé entendida como um mergulhar no Mistério do Sagrado. Para disfarçar, usam de discursos moralistas para emular um farisaísmo impiedoso. Como lembra o próprio Jesus:
"Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar sem, contudo, deixar o restante. Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade."
São Mateus 23,23-28
Assim como os fariseus de outrora, os de hoje cuidam de celebrar belas missas em latim, seguir as rubricas dos missais e fazer discursos sobre aborto e proteção à família. Enquanto isso, atacam aqueles que cuidam dos pobres durante as frias madrugadas, promovem o preconceito e afastam as minorias.
Mais recentemente, esses zelosos e ciosos das liturgias mostraram-se felizes e contentes quando o seu mito, o seu bezerro de ouro, promoveu a profanação à casa de Maria. No dia de Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro de 2022, hordas fascistas promoveram bagunça e bebedeira na Basílica, sob aplausos desses mesmos fariseus. No ano anterior, um deputado que se diz católico proferiu ofensas ao papa.
Há vários anos esses discursos de ódio vem tomando conta da nossa Igreja, corroendo por dentro a fraternidade e o amor entre os cristãos. Difamação contra padres, agentes de pastoral, muitas vezes movidos por escolhas políticas, alimentando ressentimento e construindo uma “comunhão do amargor”.
Este espaço é de resistência. Não estamos aqui para dizer que apenas nós somos os verdadeiros católicos. Nós, que permanecemos fiéis à opção preferencial pelos pobres, não recusamos a esses irmãos fariseus o direito à sentar-se à mesa da Eucaristia. O que estamos querendo é defender o nosso direito de também sentar-se à essa mesa. Na casa do Pai há muitas moradas! Há lugar para quem usa hábito e coturno, e há lugar para quem ama os pequeninos do Senhor.
Católicos antifascistas sim!
Queremos ser um espaço, ainda que virtual, de acolhimento para todos os cristãos católicos que sentem falta da espiritualidade católica, porque não sentem mais à vontade no ambiente de ódio e farisaísmo que muitas paróquias se tornaram.
Não se trata de afastarmo-nos deles, mas de rezar e pedir que o Espírito Santo entre em nossos corações e promova a paz e o diálogo entre nós.
“Ah, mas como você quer diálogo reivindicando-se a si mesmo como Antifascista?”
Meu caro, se sermos Antifascista é um problema para você, talvez o problema não sejamos nós. Talvez o seu guia preferido seja um guia traduzido para o alemão.
Nossa Senhora Antifascista, rogai por Nós
Nesse formato de site independente a visibilidade é muito pouca. Há que se criar páginas em redes sociais e ligá-las a este link. Há muitos católicos sentindo falta de um espaço não tóxico. Aliás, nós católicos não fascistas somos maioria. Como padre Zezinho alertou, a igreja perde fiéis para o ultraconservadorismo, não apenas por abandonar o hábito de frequentar a missa, mas porque os mais conservadores acabam se identificando com as igrejas evangélicas, com pastores ainda mais incisivos em discursos fascistas. Precisamos sim, primeiro criar espaços conhecidos para formar grupos de católicos não fariseus, para mostrar que não estão sozinhos, mas somos milhões. Num segundo momento deixar claro nesses grupos que a intenção não é dividir ou fazer uma hierarquia entre melhores ou piores católicos, mas reunir a igreja, afastando apenas os discursos fascistas.