Desapegar-se dos templos
No Evangelho deste domingo, Jesus nos lembra de que tudo o que construímos para Deus é transitório
Algumas pessoas comentavam a respeito do Templo, que era enfeitado com belas pedras
e com ofertas votivas. Jesus disse: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído".Lucas 21,5-6
A tradição profética do Antigo Testamento já incluía previsões negativas contra o Templo. Desde Salomão, ele era o centro da religiosidade judaica, onde habitava a Arca da Aliança. Ainda assim, o profeta Ezequiel previu que a Glória do Senhor se afastaria dele (Ezequiel 10), e Jeremias profetizava a sua destruição, como ocorreu ao Templos de Silo nos tempos do profeta Samuel (Jeremias 7,12-15). Como sabemos, o Templo de Salomão foi destruído pelo exército da Babilônia, e sua reconstrução, iniciada sob o domínio persa, só foi concluída por Herodes, já nos templos de Cristo.
Ao anunciar a destruição do Templo de Jerusalém reconstruído por Herodes, Jesus se une às denúncias proféticas de Jeremias e Ezequiel. Nelas, o Templo não é uma finalidade em si mesma, mas sim um sinal da presença de Deus no meio do povo. Se o povo se afasta da Aliança, se afasta dos compromissos que assumiu no deserto do Sinai, Deus retira a sua glória do Templo, e ele perde seu simbolismo.
E quais são esses compromissos? São dois:
Amar a Deus acima de todas as coisas (Deuteronômio 6,5);
Amar ao próximo como a si mesmo (Levítico 19,18).
O amor à Deus aparece na Torá na negativa à idolatria, e o amor ao próximo está ligado ao perdão e ao cuidado com os pobres, materializados na viúva, no órfão e no estrangeiro.
Portanto, uma religião que valoriza a estética ritual, e que chama de Mito e Messias outros que não Deus e seu Filho Unigênito, não é religião verdadeira. E uma religião que abandona os pobres e combate quem cuida deles tampouco o é.
No Evangelho deste domingo Jesus nos alerta justamente contra os falsos Messias, os que distorcem a palavra de Deus para promover os seus Ídolos, fala de toda confusão que essa gente pode causar. O povo estava encantado com a beleza do Templo de Herodes, o mesmo que era capaz de matar crianças para proteger o seu reinado. Será que a Glória de Deus habita em um Templo construído com sangue inocente, lágrimas de mães e corrupção?
Lembremos que Herodes sequer era judeu, e conseguiu o seu reinado às custas de acordos com o Império Romano. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, ele foi capaz de matar a mãe e a irmã para proteger o seu trono. E ali estavam os religiosos inebriados com esse Templo.
Hoje, há muitos católicos apegados ao missal, à língua em que a missa é celebrada, ao dourado nos vasos litúrgicos. Essas mesmas pessoas atacam o padre da Mooca que cuida dos sem teto, e silenciam diante de seus aliados políticos que profanaram a Basílica de Aparecida.
Pois tudo o que eles prezam será destruído. Porque Deus não habita em Templos construídos por mãos humanas. O verdadeiro Templo é o nosso coração, e para que a Glória de Deus habite nele não é preciso imprecar um feitiço em latim. Basta ser puro de coração.
A propósito, o Templo de Herodes foi destruído pelos romanos em 70 depois de Cristo, após uma revolta violenta que dividiu o povo judeu. A dinastia de Herodes logo acabou. E em seu lugar hoje existe apenas um muro e duas mesquitas.
Esqueçam todas essas maluquices que foram criadas ao longo dos tempos e sejais todos perdoadores no meio do mundo, pois essa é a fórmula do Pai Nosso - a única forma possível - para viver a santidade já aqui na Terra e muito mais junto ao Pai Celestial.