Isabel Cristina, a mártir vítima do feminicídio
A beatificação da brasileira Isabel Cristina neste final de semana mostra que a violência contra as mulheres é um crime que clama aos Céus
Foi beatificada em Barbacena no último sábado a leiga, vicentina e brasileira Isabel Cristina Mrad Campos, assassinada em 1982 por resistir a uma tentativa de estupro. O reconhecimento da santidade de uma vítima de feminícídio é também uma denúncia profética, em um dos países que mais mata mulheres no mundo.
De acordo com o Fórum Nacional da Segurança Pública, no primeiro semestre de 2022 quatro mulheres foram mortas por dia no Brasil pelo simples fato de serem mulheres. Foram 699 casos, o maior patamar da série histórica, iniciada em 2019.
O crime de feminicídio no Brasil foi tipificado em 2015, na Lei Eliza Samúdio, criada como reação ao bárbaro assassinato e ocultação de cadáver da mãe do filho do goleiro Bruno, então atleta do Flamengo. O caso ganhou repercussão pela crueldade com que foi cometido e pelas inúmeras tentativas de desmoralizar a vítima, o que costuma acontecer com todas as mulheres vítimas de violência.
Quando Isabel Cristina foi assassinada, durante uma tentativa de estupro cometida na casa onde morava, a defesa do criminoso tentou promover essa mesma desmoralização. Era uma época no qual o Brasil assistiu horrorizado ao assassinato de Angela Diniz pelo empresário Doca Street, e de Eliane de Grammont pelo músico Lindomar Castilho. Na época, ambos alegaram ter matado suas companheiras “em legítima defesa da honra”, um atenuante que só existia aqui e em países islâmicos.
A defesa alegou à época que Isabel Cristina havia seduzido o seu assassino. No caso de Isabel Cristina, a farsa foi desmontada pelos testemunhos de seus companheiros de paróquia, que falaram do seu trabalho social, junto aos Vicentinos. e de sua fidelidade à fé. Quando foi assassinada, se preparava para prestar o vestibular de Medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora.
Agora, Isabel Cristina é reconhecida como intercessora em favor das mulheres que buscam o seu lugar na sociedade, e por isso são vítimas não da violência física, mas também da simbólica. Falsos profetas como aquele padre com nome de cantor de rock gostam dizer coisas como (vou citar textualmente, mas não vou dar backlink para otário):
Entretanto, as mulheres já começam a colher os frutos desse empoderamento artificial. Os homens podem continuar a tratá-las impudicamente, desde que elas consintam. E assim temos as “poderosas” canções de funk, sertanejo, pop etc., com letras do tipo que não ousamos citar aqui, ou os filmes feministas, que não temem explorar o fetiche masculino por lésbicas para conquistar uma boa bilheteria. Com tamanho estímulo, só poderia dar nisto: “Casos de feminicídio crescem 22% em 12 estados durante a pandemia”
Ou seja, este sacerdote de festa junina, que gosta de posar com armas, culpa as vítimas pela suas mortes. Não deixa de ser curioso que não exista uma única palavra deste senhor sobre a nova beata, que se encontra ao lado de Nosso Senhor e Nossa Senhora, a interceder por aquelas de quem ele tripudia.
Isabel Cristina, rogai por nós!