Santidade, Radicalismo e Perdão
Cristo nos pede, em essência, que saibamos perdoar, sendo a santidade apenas uma (dentre infinitas outras) das belas consequências dessa ciência divina
Ao longo da minha trajetória de vida, me considero ter sido uma pessoa abençoada por Deus, até em excesso. Mas dentre diversos aspectos positivos e mesmo magnânimos, Deus ter permitido que eu tivesse contato com o erro (com vários erros na verdade), foi aquilo que considero ter sido a maior benção.
O que pude observar desde a minha infância e adolescência é que o discurso católico, sobre o qual desenvolvo minha mente e corpo, sempre foi um discurso de convite à santidade, de imitação de Cristo, através de uma série de exigências e comportamentos internos e externos.
Na prática, contudo, pude perceber que essa legítima imitação de Cristo vem a ser convertida por muitas pessoas, ao longo dessa caminhada, em um radicalismo que acaba as afastando da essência do Evangelho.
Me parece haver, assim, por parte de tantas pessoas que são boas em seus princípios, mas fracas de espírito, a busca pela santidade radical, pela santidade a qualquer custo. E o que pude descobrir é que a santidade não é a real meta que nos pede Cristo. Cristo nos pede, em essência, que saibamos perdoar, sendo a santidade apenas uma (dentre infinitas outras) das belas consequências dessa ciência divina.
Explico com dois exemplos.
Tendo tido, em minha vida, contato com o erro e com o pecado, recorri ao Pai Nosso – a Oração que o Senhor nos ensinou – para entender melhor como me reaproximar de Deus, em missão extremamente bem sucedida e perene. A profunda meditação e petição sobre o Pai Nosso nos revela que a única referência à santidade se refere a Deus. Por outro lado, destaca-se sobremaneira o perdão entre as pessoas, sendo esse perdão a base para evitar a tentação e o mal. Entendo, assim, que Cristo nos convida essencialmente a perdoar para ser santos e, não, para ser santos a perdoar.
Mas Cristo, como Mestre da Verdade, obviamente não se conformaria em falar, ele também precisaria agir. E preferiu mostrar às pessoas, no ápice da Paixão, que não convidou mesmo ninguém a ser santo durante todo o tempo, senão a perdoar. Para tanto, Ele canonizou um ladrão que pediu, penitente, pelo perdão. Há que se salientar que, além de Nossa Senhora Mãe de Deus, a única criatura diretamente canonizada por Deus foi São Dimas, nenhuma outra mais.
O perdão ganha, portanto, muito mais relevância para Deus. Ao revés, a busca radicalizada pela santidade, como inversão lógica de valores, traz inúmeros prejuízos para tantas pessoas, na exata medida em que lhes rouba o sentido do perdão por aquele de Justiça. À medida em que perseveram em processos de aperfeiçoamento da vida cristã, em especial das virtudes, muitas vezes a troco de autopunições e graves problemas psiquiátricos e comportamentais – porque a essência humana é radicalmente oposta à busca pela perfeição - a espada da Lei do Talião ganha muito relevo em suas vidas. Quantos são os casos de Ministros da Eucaristia que esqueceram sobre como perdoar...
Urge, pois, a retomada da arte do perdão, pois ela é, de fato, a única coisa que Deus nos pede, até mesmo para receber d’Ele o perdão que precisamos. Roguemos à nossa Advogada para que interceda pela vida de todas essas pessoas perdidas, a fim de que elas abandonem o cargo de Juízes – que nunca lhes foi pedido - em troca da Majestade do posto do ladrão arrependido.