Um adeus a Adriana Dias
A antropóloga da Unicamp, que nos deixou neste domingo, foi responsável por extenso mapeamento do neonazismo no Brasil
A antropóloga Adriana Dias, mestre e doutora pela Universidade de Campinas, nos deixou neste domingo, vítima de um câncer cerebral, aos 52 anos. Ela era responsável por um dos mapeamentos mais abrangentes do neonazismo no Brasil, tendo inclusive identificado as relações entre os extremistas e o ex-presidente Bolsonaro.
Em 2021, Adriana alertou que o número de neonazistas no país crescia de forma acelerada, com cerca de 530 células vinculadas a 52 organizações diferentes. Esses grupos cresciam desde 2011, quando neonazistas paulistas fizeram uma manifestação no MASP lançando a ideia de uma candidatura Bolsonaro à presidência.
A relação entre Bolsonaro e o neonazismo era antiga. Em 2004 Adriana havia identificado três sites neonazistas que traziam fotos do então deputado, com uma carta enviada pelo seu gabinete aos grupos. A carta desejava Feliz Natal, e concluía “vocês são a razão do meu mandato”.
Já em 2019 Adriana alertava para o crescente conteúdo de ódio associado ao nazismo nos fóruns da Deep Web, como o Dogolachan. Foi neste ano em que um adolescente radicalizado nesses fóruns realizou um massacre em uma escola estadual na cidade de Suzano, na Grande São Paulo.
Em sua tese de doutorado, defendida em 2018, Adriana mapeou o neonazismo e o extremismo de direita nos Estados Unidos. Esse trabalho também serve como alerta de como neonazistas amalgamaram suas teses supremacistas ao discurso cristão, lançando as bases de muito do ódio que hoje corrói nossas comunidades. Uma das frentes do supremacismo era a chamada “Identidade Cristã”, um movimento de igrejas que “mistura a filosofia da supremacia branca, uma teologia da reconstrução, o extremismo cristão e ódio racial e anti-semita”.
O trabalho de Adriana Dias foi fundamental para a luta antifascista no Brasil. Que o Sehor a receba em sua glória, como uma das pessoas que têm “fome e sede de justiça” (Mateus 5,6)